Entre tópicos e trópicos
Muito se fala da Tropicália. Muito já se falou, e muito ainda se vai falar. Parece que o projeto de Caetano de trazer o Brasil para a Segunda Revolução Industrial, segundo Tom Zé, foi alcançado. Há os que gostem menos, há os que gostem mais, mas uma coisa não se pode negar: A Tropicália marcou o imaginário popular do país. Naquele momento, a ditadura militar buscava assolar uma criação artística da qual muito pouco ou nada compreendia, sob a forma da censura. Em resposta – e em convergência – a televisão em expansão canalizava as inquietudes de toda uma geração, que se reconhecia em figuras populares quase que eleitas para representá-las na telinha. Uma narrativa de país era construída no eixo Rio – São Paulo e se propagava por satélite com mais velocidade do que se poderiam construir rodovias. Não é à toa que o sistema brasileiro de televisão e publicidade nos anos 60 e 70 foi em grande parte financiado por recursos governamentais, este, por sua vez, apoiado pelos vizinhos do andar de cima estadunidense e seu projeto capitalista em plena Guerra Fria.
Ao mesmo tempo, no mundo inteiro uma juventude começava a questionar valores morais da sociedade, cada qual em seu contexto particular: contra a guerra, contra o consumo, contra o sistema educativo, contra o regime militar. Naturalmente, os ventos revolucionários não demoraram a chegar no país, desflorando também suas contradições internas. E como nem a sociedade nem a juventude – e nem a arte – são tão simples a ponto de se limitarem a uma rivalidade entre engajados e alienados, foram estes encontros e desencontros territoriais e afetivos que construíram a narrativa deste período da nossa história. Mas todo conto fica mais atraente com mocinhos e vilões. Assim, passeatas, festivais e ismos foram registrados num imaginário coletivo, que embora já tantas vezes recontado, sempre tem algo novo a revelar. Mas e aí, a História parou?
Se a Tropicália foi naquele momento um grande catalisador de subjetividades em torno de uma recusa ao dualismo que colocava a MPB versus o iê-iê-iê, ela também contribuiu para a construção deste mesmo cenário. A televisão popular que permitia o diálogo com um público mais amplo centrava seus holofotes mais no “ismo” do que no “ália”. O tropical visto apenas como uma alternativa mais criativa e impactante, ofusca – até hoje – um questionamento mais profundo: como “desenquadrar” as formas de pensamento e compreensão da realidade, ontem, hoje e sempre, em, seus contextos culturais, políticos e econômicos específicos?
Isso não significa de alguma maneira buscar novos heróis tropicalistas para nos salvar da caretice habitual. Muito pelo contrário. Se bem entendemos as entrelinhas, a questão é: quais são as margarinas, Carolinas e gasolinas das quais precisamos saber, e quais prateleiras, estantes e vidraças que devem ser derrubadas hoje? Aquele país que se dizia do futuro já chegou no presente, e está construindo a pleno vapor o futuro, que está batendo à porta. Mas hoje a ditadura mudou de ditador, a crise mostra que dez anos depois uma nova globalização não apenas é possível mas necessária e os novos heróis do imaginário popular estão mais no Youtube que na televisão.
E se a Tropicália já ganhou estantes da mesma elite que ela criticava, é preciso ressignificá-la. Ou melhor, inventar outra. Ou qualquer outra coisa. Tanto faz. Como Guattari dizia, o grande interesse é ter um “ponto de encontro de novas subjetividades”, em torno de uma motivação comum.
Sobre comer o país tropical
Tropifagia: comer o país tropical. A antropofagia oswaldiana propunha comer o homem exterior em busca de uma ressignificação da identidade cultural brasileira, e a empreitada tropicalista tratou de misturar empiricamente referências nacionais e estrangeiras. Neste caminho, a proposta da Tropifagia seja a de voltar os olhares ao país tropical já hibridizado, já saboreado lá fora, e redescobrir um Brasil múltiplo, diverso, e muitas vezes, mesmo contraditório.
Os Pontos de Cultura deram este importantíssimo passo de “desvendar o Brasil debaixo pra cima”, e agora este mesmo Brasil se reencontra de forma protagonista, autônoma e empoderada, se mobilizando em rede face à mesma burocracia estatal que os gerou. A Tropifagia é fruto disso.
E por se tratar de um processo mais que um produto, talvez seja essa a dificuldade em explicá-la em palavras. Grande irmão tropifágico, Pondé expressou isso muito bem num dos milhares de e-mails que trocamos entre 2010 e 2012, entre Rio, Salvador e Paris, para que este projeto se concretizasse (um salve às redes digitais-afetivas!):
“A tropifagia não tem a resposta pronta. A razão não pode operar sobre a sensibilidade é do lugar de que se faz sentindo mais do que raciocinando. Temos propósitos, objetivos, sim. Mas eles não se sobrepõem-se sobre a nossa experiência que por vezes é extremamente intuitiva, empírica, que se faz no caminho que traçamos. Como te disse, há essa necessidade “política” que é racional e nos pede uma clareza, porém melhor não cairmos nessa armadilha de querer formular com excelência. Jamais podemos reduzir toda Tropifagia a algum sentido magnânimo, senão o de estar tentando desvendar sempre o processo que acontece por vezes à nossa revelia.”
E ponha revelia nisso. Grandes parcerias de último minuto, skypes de madrugada para driblar o fuso horário, egos, pontos de vista e responsabilidades que chamam. Um grande encontro de vontades construtivas e poéticas híbridas, atreladas à criação de espaços de convivência criativa entre sujeitos sociais ética, estética e economicamente distintos.
Preferências à parte, acho que a faixa Yemanjá é a que mais simboliza isso.
A convite de Thiago Pondé, Mariella Santiago empresta sua maravilhosa voz à composição de Rafael Pondé, Tico Marcos e Roberto Leite, num delicioso tabuleiro de baianos. Em Paris, chega às minhas mãos através do DJ mineiro Corisco Dub a revista Bravo! que traz na capa a matéria “A voz e o computador”, sobre o novo disco de Gal Costa produzido por Caetano Veloso. Naquele momento, entendi que a inovação que a guitarra elétrica tropicalista trazia para a música brasileira é hoje representada pela produção musical caseira e de qualidade (salve Amarelo Estúdio!), entre softwares de áudio e e-mails. Na hora, pensei que Yemanjá poderia representar isso, no grande trabalho de experimentação estética que é a Tropifagia – a mistura de referências, o diálogo entre a cultura popular dos orixás e ijexá e a cultura digital do remix e sintetizadores – e convidei Corisco para remixar a música. Todo este trabalho tem sido feito à base de parcerias e encontros inesperados. Eis então que, sem saberem que já estavam ligados pelo processo tropifágico, Mariella, em turnê em Paris, encontra Corisco e o grupo parisiense de maracatu Tamaracá e estabelecem uma parceria para tocarem juntos no concurso de batucada da cidade. Conexões feitas e referências compartilhadas, eis que a rainha do mar recebe em oferenda uma versão dub com um toque afrobeat, e continua a abrir nossos caminhos na empreitada tropifágica.
Uma investigação estética – filosófica sobre as possíveis relações entre cultura, política, comunicação, conhecimento e processo criativo. Motivados por uma crítica a um sistema com o qual não concordamos, embalados por muitas horas de estúdio, mesas de bar e trocas de e-mail, e simbolizados num primeiro produto artístico que é o EP Comendo o País Tropical.
À sua época, a Tropicália se reivindicava mais como um “momento” do que que um “movimento”. Essa era a subversão: num contexto histórico onde movimentos políticos eram necessários para se opor à ditadura militar, a reivindicação enquanto “momento” trazia uma perspectiva diferente. Da mesma forma, acho que no cenário (quase ditatorial, diga-se de passagem) da indústria cultural hoje, o fato de ser “processo” mais que “produto” se aproxima desse mesmo paradigma (inclusive esteticamente nas palavras: momento x movimento; processo x produto).
Assim, a Tropifagia pode ser entendida como a motivação que faz com que tantas ideias e parceiros transitem em torno de um projeto mais ou menos comum, preservando individualidades e mesmo divergências, sob uma dimensão coletiva agregadora. E sem dúvida alguma, não somos os primeiros, nem seremos os últimos, e muito menos os únicos. De alguma forma é isso que expressa a contracapa do EP: esta experimentação só irá amadurecer conectada em rede.
No sentido da produção de subjetividade, também são redes micropolíticas (citando uma das minhas principais fontes de inspiração, Felix Guattari) os Pontos de Cultura, a Agência de Redes pra Juventude, a(s) Casa(s) da Cultura Digital, o Fora do Eixo, o 15M espanhol, e por aí vai.
Acredito que cada ator social encontra uma forma de contribuir ao mundo a sua volta a partir de algo que os motive, sejam experimentações estético-políticas, superação de arranjos produtivos, laboratório de ideias digitais-afetivas. O que simplesmente me leva a crer que a sensação de inovação e descoberta que tomou um jovem baiano de Santo Amaro a ponto de fazê-lo reunir a trupe tropicalista em torno de um projeto comum, é a mesma que levaram estas – e outras – boas ideias a saírem do papel.
E, na esperança que muitas outras ainda saiam, fica aqui esta pequena contribuição tropifágica, indignada e micropolítica. Bom apetite!
Despertando um novo mundo
O Gaia Jovem Serrano é um programa educação em sustentabilidade que incentiva indivíduos a reverem seu papel no mundo.
O programa trabalha a sustentabilidade de forma integrada, ampla e transdisciplinar, através de dinâmicas em grupos, jogos cooperativos, elaboração de projetos, intervenções e vivências na natureza e ferramentas de desenvolvimento pessoal e coletivo. Mais do que capacitar jovens com habilidades técnicas para solucionar problemas de sua realidade, o propósito deste programa é despertar o potencial de transformação de cada um. Utilizando ferramentas para ajudar o jovem a encontrar equilíbrio entre seus talentos, habilidades e dúvidas, buscamos estimular a conexão com seu eu interior, motivando o indivíduo na busca de seu potencial criativo.
Vinte e sete jovens de 14 a 21 anos das cidades de Nova Friburgo, Petrópolis, Rio de Janeiro, São Paulo e Juiz de Fora participarão da segunda edição, que acontecerá entre Agosto e Novembro de 2016, no Sitio Vale de Luz, na região Serrana do Estado do Rio.
Para a gente, é indispensável que o fator financeiro não seja um impedimento para a participação, por isso adotamos um modelo de captação de recursos onde cada família informa o quanto pode investir no programa. Baseado nessas informações, a equipe Gaia Jovem Serrano busca captar o restante dos recursos necessários através de parcerias, patrocínios e doações.
A energia do dinheiro é uma poderosa ferramenta de manifestação em nossa sociedade atual e esse é um convite para que você use sua energia para manifestar no mundo algo que você acredite. Se você acredita no potencial transformador dos jovens, na necessidade de mudança e na criação de um novo mundo, faça parte dessa rede de apoiadores!
A primeira edição foi realizada entre agosto e novembro de 2015, com 25 jovens de Nova Friburgo, Rio de Janeiro, São Paulo e Juíz de Fora. Veja o video filmado e editado pelos próprios jovens contando um pouquinho do que foi esta grande experiência (e se emocione com a gente!):https://www.youtube.com/watch?v=njihPmIu-YM
E você: o que você faz quando abre os olhos?
#gaiajovemserrano #despertandoumnovomundo #osonhojacomecou
Para saber mais:
Financiamento coletivo https://unlock.fund/gaiajovemserrano
Página do Facebook: https://www.facebook.com/gaiajovemserrano
Site oficial: https://www.gaiajovem.com
Email: gaiajovemserrano@gmail.com
Este projeto é uma realização do Sítio Vale de Luz e da Txai Design de Experiências
Novas poéticas possíveis
O Bahias Intemporais foi o evento de lançamento e celebração dos 4 anos da Cena Tropifágica. No dia 11 de junho participei da mesa Novas poéticas possíveis ao lado do Thiago Pondé e Jorge Mautner, e compartilho aqui com vocês um pouco das reflexões que eu trouxe. É claro que na hora nunca sai igual, mas o recado foi mais ou menos esse:
Olá boa tarde! Vocês não imaginam a nossa felicidade de estar aqui. Primeiro, porque eu sou carioca e adoro a Bahia rs. Mas principalmente por ver os frutos desse projeto tão especial vindo à público, assim ao vivo, pela primeira vez. Obrigada a todos e todas envolvidxs por isso: Governo do Estado da Bahia, as meninas da Multi, o Cine Teatro Solar Boa Vista, Pondé, Mautner, Galvão, Mariella, todos vocês.
Bom, eu quero começar contando uma história para vocês: um dia, um rapaz bem atentado das ideias sentia que seu local de origem tinha ficado pequeno pra ele e ouviu o chamado do seu coração de sair da Bahia para vivenciar outros galhos e seus macacos. Chegando lá ele encontrou novas ideias e parceiros, e depois de um tempo experimentando ele começou a sentir as amarras novamente. Algo ainda estava sufocado, algo que não cabia mais naquele script. Os modos de fazer, as hierarquias, as estéticas, e os assuntos não mais lhe cabiam. E ele não estava sozinho, havia encontrado novas referências e parcerias nesta jornada. E decidiram fazer algo diferente. Algo que nunca tinham visto, mas sabiam que não eram os únicos a sentir aquele desconforto. E sabiam que suas ideias chegariam até onde deveriam chegar. Eles queriam ganhar o mundo – e reinventaram os seus próprios.
Alguém tem uma ideia de quem estou falando? Aposto que muitos de vocês chutaram Caetano Veloso e a trupe da Tropicália. Sim, também poderia ser. Mas tô falando de outro baiano, esse cra aqu: Thiago Pondé, na época estudante de filosofia metido à artista que lá nos idos de 2000 foi me encontrar lá no Rio de Janeiro fazendo cultura no movimento estudantil. E sim, essa história é de tantos outros Thiagos, Alines, Caetanos, Jorges, Marias por aí… Porque todos nós temos um coração que não apenas bate, mas se inspira, vibra e grita coisas que muitas vezes insistimos em calar. Mas aqueles que fazem a diferença, esses dão ouvidos e vozes aos seus corações porque sabem que esse chamado faz parte de algo maior que eles. Alguns chamam de intuição, vocação, Deus interior. Tanto faz o nome, o que importa é esse frio na barriga e esse calorzinho no peito. E por isso eu pergunto: o que faz o seu coração vibrar?
E porque estou falando isso? Porque estamos aqui para falar de novas poéticas possíveis, não é mesmo? E quem poesia maior do que a batida do nosso coração? Tô falando sério. Peço a todos e todas vocês que estão na plateia, pessoal do apoio, Thiago e Mautner: fechem os olhos por um momento e reparem na sua respiração. Sintam o ar que entra pelo nariz, percorre todo o seu corpo, preenchendo cada espacinho seu de vida. E depois retorna ao mundo, colocando para fora tudo aquilo que não te serve mais. Sinta a Terra sob o seus pés te apoiando incondicionalmente. Não há namorado ou namorada, partido político, projeto cultural que te apoie mais do que a vida a sua volta. Respire fundo e sinta – não pense, não elabore, não fale – apenas sinta isso! Pronto, pode abrir os olhos.
Vocês sentem alguma diferença? Na loucurada dos nossos dias às vezes é tão difícil parar para simplesmente sentir esse estado de presença, não é mesmo? Então fica aqui essa dica, quando as ideias estiverem confusas, quando parecer não haver saída, simplesmente pare, feche o olho, respire fundo e sinta a Terra se manifestar através de você. Experimente não fazer nada, simplesmente deixe emergir.
Bom, agora voltando ao tema da mesa – novas poéticas possíveis – e vou explicar porque não estamos fugindo do assunto. No dia que eu, Pondé e a turma da UNE fomos entrevistar o Gil em 2010, quando toda essa história de Tropifagia surgiu, ele falou algo que tocou muito a gente: “A pauta do artista é uma folha em branco”. Ou seja, assim como respirar fundo e deixar o vazio falar por você, quando Gil diz isso ele traz a dimensão de que o processo criativo não pode seguir uma pauta pré escrita, pode sim ter um contexto, uma intenção, ou mesmo um objetivo. Mas a criação em si é como um ato de vida: espontâneo, e muito maior que nós, que muita vezes não sabemos, por isso devemos estar de olhos e ouvidos atentos.
E isso não se aplica apenas à criação artística, mas tudo aquilo que manifestamos no mundo. Seja você músico, pintora, produtor cultural, advogada, segurança, educadora, pai de família, presidenta do Brasil. Não importa: a Terra está falando através de você. E a natureza é muito, muito sábia, devíamos estar mais atentos. Como na música “O hippie”: “Primeiro vem a paz depois vem a ciência, prefiro a opinião que vem da natureza”. É isso. Se estamos falando de novas poéticas possíveis, e nosso corpo é pura poesia, o que me interessa saber é: o que estamos manifestando no mundo?
Quando pintou essa história de Cena Tropifágica pra gente, a nossa principal motivação era a de que não mais nos enquadrávamos naquele modo de produção cultural onde nos encontramos. Sabíamos que poderia ser diferente e foi ouvindo a esse chamado, bebendo nas fontes da Antropofagia e da Tropicália, que desenvolvemos esse conceito de TROPIFAGIA: comer o país tropical. Ou seja, o que seria esse Brasil hoje, revisto por ele mesmo, depois de já ter “comido” as referências estrangeiras, depois de já ter sido “comido” lá fora. O que o Brasil enquanto um espaço de experimentação artística – e também política, claro – manifesta hoje no mundo contemporâneo?
Naquela época eu tinha acabado de publicar um livro chamado “Produção de cultura no Brasil: Da Tropicália aos Pontos de Cultura”, onde minha motivação era justamente essa. Isso foi em 2008, quando se comemoravam os 40 aos do maio de 68, da exposição “Nova objetividade brasileira” de Hélio Oiticica, os 80 anos do manifesto antropofágico. E ouvia muito que “não se produz mais cultura como antigamente”, ou “a juventude de hoje não se engaja politicamente como naquela época”. E daí que eu, como representante dessa geração, me sentia desafiada a mostrar que a gente faz arte e faz política sim! Só não era da mesma forma que tinha sido na geração de 28, na geração de 68, claro que não! O contexto era outro, as motivações eram outras, então, claro, a expressão também seria outra!
E eu acho que no meio desse caos político que estamos vivendo, é disso que a gente precisa, novas perguntas pois as velhas respostas já estão obsoletas! Tem um cara chamado Dee Hock que diz que a criatividade emerge justamente neste ponto entreo o CAOS e a ORDEM. Ou seja, não há respostas prontas que dêem conta do que realmente nos move, seja na arte ou na política – e o que seria de uma sem a outra?
Então eu acho que é isso, é nossa responsabilidade enquanto indivíduos, enquanto grupo social e enquanto parte deste planeta, estar atendo a esse ponto de equilíbrio entre o caos e a ordem que existe dentro e fora de cada um de nós, e manifestar aquilo que viemos manifestar. Isso é poesia.
Ah, e só pra finalizar: #ForaTemer. Obrigada!
Saiba mais sobre a Cena Tropifágica:
As mulheres, o 8 de março e a (re)invenção da cidade: pelo direito de circularmos e existirmos
por Bianca Rihan*
“Bota abaixo”: era assim que a gente do Rio de Janeiro identificava a reforma urbana conduzida pela administração Pereira Passos, no começo do século XX.
Meados de 1904 e a cidade abrigava uma população de aproximadamente um milhão de pessoas, sobretudo negrxs, camponesxs migrantes e imigrantes que projetavam, na então capital da República, o sonho de prosperidade. Porém, o intenso e desordenado crescimento, que levou numerosas famílias das classes populares a ocuparem regiões centrais – e estratégicas – da cidade, tornou-se uma afronta aos donos do poder e a seu projeto de modernização conservadora, que pretendia reconstruir o Rio de Janeiro à imagem e semelhança de Paris da Belle Époque.
Esta, no entanto, não é uma história de beleza, mas o início de um ciclo de injustiças, segregação social e muitos preconceitos. Na base da truculência, casas e histórias de vida, tempos de contato e laços de solidariedade foram demolidos, dando passagem às largas avenidas e ao ambiente higienizado que pretendiam as autoridades. O modus operandi “debaixo de cacete” impôs a transferência da população pobre para zonas afastadas do centro. E o investimento “modernizador” atingiu apenas aqueles pontos remetidos à chegada de estrangeirxs em destino turístico ou comercial, e à moradia das elites. Eis a origem da “cidade maravilhosa”: ao centro e à zona sul, tudo; ao “resto”, algo perto de nada.
Passado mais de um século da chamada “Belle Époque carioca”, a célebre frase de Karl Marx – forjada no “caçoar” de um Napoleão sobrinho bastante medíocre – não poderia ser tão bem aplicada a essas bandas da Guanabara: “a história acontece como tragédia e se repete como farsa”[1]. Em uma versão atualizada – e um tanto mais patética – de modernização ($) do Rio, Eduardo Paes – ou o novo Pereira Passos – e sua trupe promovem um processo violento de mercantilização do território urbano, entregando-o de mãos beijadas aos interesses do capital financeiro e especulativo.
Segundo o doutor em planejamento e professor do Ippur, Orlando Alves dos Santos Junior:
O que estamos vendo é um projeto de reestruturação urbana sem participação alguma da sociedade. São três pontos principais: o fortalecimento da Zona Sul, da Zona Portuária e a criação de uma nova centralidade na Barra da Tijuca, sob o guarda-chuva olímpico. Na verdade, o que ocorre sob esse argumento é uma grave intervenção urbana em função da indústria imobiliária. A presença dos moradores de classes mais pobres se tornou um entrave no meio do caminho a ser removido. [2]
Está dada a farsa da cidade olímpica. Quem paga o preço novamente? O povo. E exponencialmente sofrem as mulheres.
Desde 2014, na ocasião da realização da Copa do Mundo no Brasil, organizações feministas dos quatro cantos do país já apontavam para as engrenagens violentas que iam se estruturando nas cidades, e para o ataque direto à vida das mulheres. No Rio de Janeiro não foi diferente. Sob a retórica do progresso, da modernidade e dos megaeventos, acompanhamos milhares de pessoas despejadas de suas casas, realidade ainda mais dura para as mulheres pobres e negras, as mais afetadas pelas remoções (nada mais simbólico para as ações da “prefeitura olímpica”: neste 8 de março de 2016, dia internacional de luta das mulheres, Dona Penha, liderança comunitária da Vila Autódromo, teve sua casa demolida pelos homens de Eduardo Paes) e maiores vítimas da exploração sexual e do tráfico de pessoas, que tornaram a crescer com a aproximação das olimpíadas neste ano de 2016.
Na rota dos tratores da prefeitura estão, ainda, antigas linhas de ônibus que têm seus trajetos encurtados, engordando os lucros das empresas de transporte e bagunçando as vidas de tanta gente. O público feminino, além de demorar bem mais para voltar para casa após dias desgastantes de trabalho e tantas baldeações, passa a se deparar frequentemente com situações de risco, como os casos de violência, assédio sexual e – no extremo – casos de estupro, aumentados consideravelmente em horários avançados, em ruas escuras, desertas e inseguras.
Vale acentuar que a sociedade patriarcal nos imputa a responsabilidade quase exclusiva sobre as crianças e xs idosxs próximxs (pois sim, somos nós mulheres que, na maioria dos casos, levamos filhxs à escola e xs familiares mais velhxs para procedimentos de cuidado). Logo, somos as mais abaladas com os preços abusivos das passagens – que precisamos adquirir para além do itinerário trabalho x casa – e com o tempo despendido nesses trajetos, o que restringe brutalmente nossos momentos de lazer e de acesso à cidade.
Diante de tantos exemplos, é bem óbvia a conclusão de que as feministas que ocupam as ruas do Rio de Janeiro e de todo o Brasil neste 8 de março não o fazem para se vitimizar, como sugere o padrão das abordagens midiáticas covardes, machistas e classistas que invadem nossas casas todos os dias. Nosso motivo está no extremo oposto: não aceitaremos mais nenhuma destruição provocada por esse sistema de exploração que arranca nossa autonomia de maneira radical, restringindo nossa circulação nos espaços públicos e limitando, entre outras violências, as possibilidades de escolhermos livremente os nossos próprios caminhos.
Queremos acesso pleno à cidade em que vivemos, direito à circulação a qualquer hora do dia e da noite, assim como momentos de cultura e lazer livres de medo. Estamos nas ruas para dizer um basta à violência contra as mulheres e ao sentimento de insegurança em cada esquina que dobramos, sob o risco de toparmos com um agressor (falando em agressor, cabe aqui reiterar o repúdio das mulheres cariocas à candidatura de Pedro Paulo Carvalho para a nossa prefeitura, pois além de este senhor ser o representante simbólico do modelo castrador de cidade, que tanto nos violenta atualmente, é também um agressor físico de mulheres [3]).
Assim, apesar das capturas do mercado, que pauta o 8 de março como um dia de flores e bombons, organizamo-nos para reafirmá-lo como mais um dia de luta. Um dia em que transbordamos junto às nossas companheiras, compartilhando experiências que (re)existem e inventam novos tempos, novas possibilidades de luta, apesar das constantes tentativas de dominação e domesticação por parte do capital e da masculinidade opressora que o representa.
Com solidariedade, irreverência e criatividade, o feminismo está mobilizado a partir do mediato e do imediato, ativando possibilidades de transformação nas brechas e contradições das formas hegemônicas de poder. Partilhar experiências para dar visibilidade aos nossos sofrimentos e desejos, às nossas vozes e corpos e, sobretudo, para ativar nossos laços de companheirismo e acolhimento, de irmandade e reconhecimento é o princípio de nossa potência. E é por isto que ocupamos as ruas: para botar na pista a política feminista dos afetos, inventora de mundos e de formas mais horizontais de agir e de existir, de ver e de ser vistx, de falar e de escutar. Estamos todas juntas na fabricação de nossa nova cidade e de nosso novo mundo possíveis!
[1] MARX, Karl. O 18 brumário de Luís Bonaparte. São Paulo: Boitempo , 2011.
[2] http://www.canalibase.org.br/dossie-remocoes-no-rio-atingidos-chegam-a-30-mil/
[3] Ver http://epoca.globo.com/tempo/expresso/noticia/2015/11/ex-mulher-de-pedro-paulo-prestou-queixa-contra-ele-por-agressao-ja-em-2008.html
* Bianca Rihan é historiadora, socialista e feminista, mestre em história social pela UFF e doutoranda em ciência da informação pelo Instituto Brasileiro em Informação Ciência e Tecnologia/ Escola de Comunicação da UFRJ.
Confestival Dragon Dreaming Internacional 2015
Um encontro+festival+conferência da comunidade mundial Dragon Dreaming, aberto à tod@s que vibram com esta tecnologia social.
Cinco dias de vivências, trocas interculturais, celebrações e conexões profundas. Uma oportunidade para renovar os elos e fortalecer uma rede de escala global comprometida com a mudança para uma sociedade consciente onde tod@s ganhem.
E mais:
– programação com a tecnologia social de Espaço Aberto, estimulando a auto-organização e inteligência coletiva
– vivências na natureza e brincadeiras
– atividades artísticas e culturais
– partilha de experiências de projetos, aprendizados e melhoras práticas Dragon Dreaming
– conexão da comunidade DD e fortalecimento da OCV Dragon Dreaming Br e Internacional
– participação especial do John Croft, co-fundador do Dragon Dreaming, além da rede internacional de treinadores
– reflexão sobre ferramentas, metodologia e princípios
– sabedoria dos povos originais brasileiros
– estrutura inclusiva para pessoas com crianças
– reencontro de amig@s, descoberta de novas amizades e criação de sinergias!
– oportunidade de co-criar passos futuros para ações comprometidas
Data:
28 de out a 2 de Nov de 2015
– início: 16h00
– encerramento: 13h00
Solicitação de Inscrições em:
http://www.tiny.cc/confestivalddint2015
(vagas limitadas, por ordem de pagamento da inscrição)
Local:
Piracanga – Centro de Desenvolvimento Humano e Ecovila
Itacaré, Bahia – Brasil
Localizada na Península de Maraú, é cercada por praias paradisíacas, coqueirais e manguezais. Respeitando as individualidades e celebrando a diversidade, busca compartilhar os sonhos, valores e o despertar espiritual em um espaço na natureza, crescendo juntos e em cooperação.
+ infos em www.piracanga.com
Custo mínimo por pessoa:**
(saiba como chegamos nestes valores acessando http://www.tiny.cc/fin-conf-int-2015)
:: valor com hospedagem*+participação nas atividades do encontro+refeições inclusas – alimentação vegana** feita com amor!
até 31 de julho:
R$ 720+contribuição*** – nos quartos coletivos mistos
R$ 840+contribuição*** – nos quartos triplos/quadrulos
R$ 900+contribuição*** – nos quartos duplos
até 28 de agosto:
R$ 770+contribuição*** – nos quartos coletivos mistos
R$ 900+contribuição*** – nos quartos triplos/quadrulos
R$ 1000+contribuição*** – nos quartos duplos
até 30 de setembro:
R$ 820+contribuição*** – nos quartos coletivos mistos
R$ 980+contribuição*** – nos quartos triplos/quadrulos
R$ 1100+contribuição***- nos quartos duplos
*Crianças com menos de 4 anos dormindo com os pais pagam apenas o custo participação nas atividades do encontro, que inclui um Espaço das Crianças. De 5 a 12 anos tem desconto de 25% na hospedagem+alimentação (hospedagem no quarto dos pais). Residentes em Piracanga pagam somente custo da organização. Para outras condições, quartos individuais, residentes da ecovila e outros, consulte.
** Pedidos de refeições vegetarianas poderão ser atendidos para pessoas que tenham alguma restrição grave com alimentação vegana e deverão ser solicitados com antecedência
*** contribuição dentro do ponto de equilíbrio pessoal para tornar o curso inclusivo
Formas de pagamento*:
:: à vista no ato da inscrição – depósito
:: 2x – R$ 370 no ato da inscrição + restante deposito dia 21/10/15
:: 3x – – R$ 370 no ato da inscrição + 2° parcela deposito dia 21/10/15 + 3°para 3/12/15**
* somente para inscrições nacionais
** pagamento somente em cheque ou depósito programado
“O dinheiro não deve ser um impedimento para a sua participação no encontro. Se este for o seu caso, entre em contato conosco até o dia 15/08/2015 pelo e-mail dragondreamingbr+social@gmail.com“
CONTATOS PARA INFORMAÇÕES:
dragondreamingbr@gmail.com
Debora: +55 (21) 99405-4322
Marcel: +55 (15) 98153-0002
Raquel Davi +55 (73) 9831-5249
Tanya: +55 (11) 98902-8276 / +1 (416) 231-1681 – Internacional
REALIZAÇÃO:
OCV Dragon Dreaming Brasil
PARCERIA:
ISAVIÇOSA – Instituto Socioambiental de Viçosa
Piracanga – Centro de Desenvolvimento Humano e Ecovila
APOIO
Viveiro de Projetos – Grupo de Permacultura, Empreendedorismo e Educação
Limiar – Processos Emergentes
Txai – Design de Experiências
Casa Viva – Design de Inovações Sustentáveis
Porjeto Florescer – Serra Grande/BA
Terrapia – Alimentação Viva na Promoção da Saúde
REFERÊNCIAS:
Gaia Jovem Serrano: Educação em Sustentabilidade para Jovens
O Gaia Jovem Serrano é uma vertente do Gaia Education (www.gaiaeducation.net), um programa de formação de estudantes e profissionais que empodera os indivíduos a reverem seu papel no mundo.
Trata-se de uma vivência transformadora que considera a sustentabilidade de forma integrada e transdisciplinar. Através de debates inovadores e aulas práticas em meio à natureza, faremos dinâmicas em grupos, jogos cooperativos, elaboração de projetos, bioconstrução, plantio, arte, música e ferramentas de desenvolvimento pessoal e coletivo.
O Programa é certificado internacionalmente e segue as mesmas bases do currículo do Gaia Education, adaptado para a realidade dos jovens brasileiros. Nesta edição, trazemos a proposta para a comunidade da Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro, abordando questões específicas da juventude rural e de comunidades impactadas por catástrofes naturais. A ideia é que programa contribua para a integração e o fortalecimento de redes de sustentabilidade e cooperação social no local, a partir dos próprios jovens.
Isso porque mais do que capacitar jovens com habilidades técnicas para o mundo contemporâneo, o propósito deste programa é despertar o potencial de transformação de cada um. Utilizando ferramentas para ajudar o jovem a encontrar equilíbrio em momentos de confusão, buscamos estimular a conexão com seu eu interior, motivando o indivíduo na busca de seu potencial criativo.
O curso é direcionado para jovens de 14 a 21 anos, mas todas as candidaturas serão analisadas individualmente. Queremos que a turma seja composta de jovens de diversas classes sociais e motivações e as inscrições estão abertas aqui: http://tiny.cc/gaiajovemserrano
:: DATAS ::
Módulo Social: 7 a 9 de Agosto
Módulo Econômico: 18 a 20 de Setembro
Módulo Ecológico: 16 a 18 de Outubro
Módulo Visão de Mundo: 20 a 22 Novembro
Módulo Imersivo (Quatro Dimensões): 12 a 20 de Dezembro
:: LOCAL ::
O curso será realizado no Sítio Vale de Luz, em Conselheiro Paulino, zona rural do município de Nova Friburgo, região serrana do Estado no Rio de Janeiro. Referência em educação na região, sua missão é criar condições para que as crianças e os jovens, prioritariamente carentes, tenham a oportunidade de transformar suas capacidades individuais em habilidades socialmente construtivas.
:: PRÉ INSCRIÇÕES ABERTAS ::
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(21) 9.8232 – 4476 (vivo)
(21) 9.6518 – 0593 (nextel)
Em cooperação,
Equipe Gaia Jovem Serrano
Nas sutilezas
(Aproveito este 8 de março para compartilhar o relato que me foi enviado por email por uma leitora deste blog sobre o assédio que sofreu em uma sessão de fotos. Não a conheço pessoalmente mas a história muito me tocou e acredito que merece ser compartilhada. Vale a reflexão, mulheres!)

La sutileza – Raquel Oliveras Rodriguez
“Não posso deixar passar, definitivamente. Tomei essa decisão por mim, por todas que passaram por situações similares ou mais diretas nesse projeto, por todas as mulheres que passam por isso todos os dias, pelas gerações que se calaram/foram caladas, pelas gerações que estão chegando e pelas que estão por vir. Que as nossas meninas de hoje sejam mulheres cada vez mais livres e respeitadas. E que os meninos de hoje se tornem homens respeitosos e cuidadosos. Mais humanos.
A verdade é que ficha demorou a cair.
Ele me olhava minuciosamente enquanto eu me despia. Me senti desconfortável, mas imediatamente concluí que EU que estava nervosa com aquela situação de fazer sessão de fotos nua, que eu mesma escolhi para mim. Isso era um problema meu.
A sessão começou. Quando ele começou a me mostrar as primeiras fotos tiradas, já não curti. Percebi o quão estava desgostosa com o meu corpo e aquela situação toda começou a se tornar insuportável e constrangedora para mim. Ele, então, sugeriu que eu sentasse, para tentarmos fazer novas fotos em que eu pudesse me sentir melhor. Foi uma boa alternativa, comecei a conseguir esconder o que me incomodava. Ainda assim, aqueles minutos pareciam horas infindáveis. O que mesmo eu estava fazendo ali, meu Deus? Fui me sentindo muito exposta e vulnerável. Eu estava desconfortável, comecei a sentir um choro vindo. Dada essa minha condição, ele levantou da cadeira, sentou no chão comigo e me abraçou. Eu, nua, por dentro e por fora. Ele, o “fotógrafo-psicólogo”, tentando cuidar da mulher com baixa autoestima. Entre abraços e olhares profundos, elogiou meus peitos fartos algumas vezes, colocou as mãos na frente do próprio corpo, na altura dos próprios peitos, fazendo movimentos no ar como se estivesse mexendo em seios, e falava coisas como “esses peitos enormes, lindos, você é linda, para com isso”. Disse também que é claro que se não fosse casado ficaria comigo. Disse também que os amigos dele brincavam com ele que ele estava fazendo esse projeto para ver mulher pelada e que ele dizia que se fosse para isso não teria homens no projeto…
Ele não levantava a minha autoestima com tantos elogios e abraços e eu disse isso pra ele. Agradeci, inclusive, a tentativa, mas que não estava adiantando. Fizemos mais algumas fotos, depois eu disse que não estava mais conseguindo e terminamos. Ele até sugeriu que eu voltasse e refizesse a sessão em algum momento em que eu estivesse melhor comigo. Achei gentil e cuidadoso da parte dele.
Saímos bem de lá, fomos fazer um lanche, falamos do projeto, me ofereci para ajudar a escrevê-lo, a tentar editais, sugeri crowdfunding. Ainda escrevi pra ele depois reforçando a minha oferta em ajudar com o projeto.
Ainda fui chamada uma vez por uma menina na rua, que tinha me visto em um dos vídeos das entrevistas que ele fez, querendo saber a minha opinião, como tinha sido, porque ela tinha sido convidada e estava em dúvida. Eu contei da minha questão com o meu corpo, em como foi difícil para mim, mas a incentivei a fazer. Incentivei uma outra amiga também.
Até que um dia, José*, um amigo, veio me perguntar como tinha sido essa sessão de fotos, porque uma amiga dele, Ana*, tinha feito e relatou para ele que o tal fotógrafo tinha tentado beijá-la durante a sessão dela. Algo inexplicável aconteceu dentro de mim nessa hora. Foi a sensação de mil fichas caindo na minha cabeça, fui lembrando de tudo o que aconteceu naquela tarde, por toda a responsabilidade que eu trouxe para mim pelo que aconteceu ali.
José* pediu para eu não falar nada para ninguém, porque Ana* tinha pedido isso para ele. Respeitei e mantive o silêncio. Mas tudo isso ficou muito vivo em mim. Poucos meses depois, talvez dois, uma outra amiga, que não fez as fotos, veio me contar que uma amiga nossa em comum tinha vivido uma história dele ter tentado beijá-la na sessão de fotos. E não era Ana*, que José* tinha relatado. Calma aí, mais uma?
Bem, nisso tudo, já somos cinco, que eu saiba. Cinco que ficamos caladas. Mais cinco histórias para os autos dos casos que não entram em estatísticas. Mais cinco, dentre outras, que podem ter vivido esse tipo de situação nesse projeto. E de mulheres que passam por isso todos os dias e simplesmente não percebem, não trazem à luz da consciência o que de fato aconteceu/está acontecendo.
O maior aprendizado para mim nessa história, que quero trazer à tona, é o fato de que sim, estamos à mercê desse tipo de situação a qualquer momento. E não só à mercê, estamos vivendo a qualquer momento. Mesmo nós que nos sentimos tão donas de nós, dos nossos direitos, da nossa liberdade, da nossa luta, que achamos que já entendemos tudo. Mais do que vítima dele, me sinto vítima dessa questão histórica que nós mulheres carregamos incrustadas nos nossos corpos. O assédio vai desde o que nos parece óbvio, como um cara que passa a mão, estupra, fala um “gostosa” na rua, ou lança um olhar que engole, que nós mulheres sabemos bem como é. O assédio, mulheres, pode vir assim: travestido. De bom moço querendo apenas cuidar da moça frágil e vulnerável. Pode ser sutil e perverso, ao mesmo tempo.
Suas fichas, mulheres, podem estar caindo só agora, lendo esse texto. Isso aconteceu comigo e com outras meninas: só ao ouvir outro relato que nos demos conta do que aconteceu conosco.
Esse texto foi escrito no dia 26 de setembro de 2014, quando tudo veio à tona e isso acabou sendo só um vômito. Nunca soube o que fazer com ele, o que fazer com essa história. Continuo sem saber. Continuo me sentindo calada, apesar da oportunidade de publicá-lo agora, com pequenas alterações e mudanças dos nomes todos, inclusive o meu, tanto para me preservar como também os citados nesse texto, quanto o próprio fotógrafo. Há mais de cinco meses essa história vive dentro de mim, acompanhada de um “não-saber”. Para mim, isso também é reflexo de tudo o que ainda carregamos.
Encorajo todas as mulheres a serem mais corajosas (do que eu). Porque não podemos mais nos calar. E isso foi o que tentei não fazer, ficar calada, mas sinto e admito que é um tanto covarde ainda. Que consigamos fazer isso por nós, pelas que foram, pelas que virão.
Lena*
* Os nomes originais foram omitidos a pedido dela
Boas vindas à nova SCDC/MinC

Reunião do Fórum dos Pontos de Cultura do Estado do Rio de Janeiro
Prezada Secretária da Cidadania e Diversidade Cultural O Fórum dos Pontos de Cultura do Estado do Rio de Janeiro , reunido em 23 e 24 de janeiro em Lumiar, Nova Friburgo, saúda sua chegada e apresenta as principais pautas sobre as quais temos debatido no âmbito do Programa Cultura Viva, para os quais solicitamos sua máxima atenção nesta nova gestão. Em primeiro lugar, é de suma importância fortalecer o debate da regulamentação da Lei Cultura Viva, cuja aprovação em 2014 foi fruto de muitos anos de construção do movimento dos Pontos de Cultura, e que precisa contar com a vontade política do Ministério da Cultura, e da Secretaria da Cidadania e Diversidade Cultural mais especificamente, para sua implementação. Vemos hoje a necessidade de um cronograma de regulamentação da Lei, em mais especificamente dois principais pontos a serem priorizados: – A Instrução Normativa que regulamenta o funcionamento do Programa deve compreender, no Termo de Cooperação Cultural estabelecido entre o MinC e os Pontos de Cultura, que o relatório de atividades e a planilha financeira sejam desvinculados. Sabemos que a realização de atividades no contexto dos Pontos de Cultura não corresponde às exigências da Lei 8.666, e desta forma proposta, a prestação de contas se torna muito mais real, correspondendo às atividades de fato realizadas e não à simples apresentação de notas fiscais. – O Termo de Ajuste de Conduta, que permite compensar os problemas dos convênios com pendência através de serviços e atividades, ao invés da devolução de verba do Ponto de Cultura para o MinC. Entendemos que esta chamada “anistia” busca beneficiar o Programa Cultura Viva em si, reconhecendo os projetos em suas potencialidades culturais e limitações burocráticas, apresentando contrapartidas culturais que beneficiam a sociedade muito mais do que a mera contrapartida financeira. Esta pauta nos remete ainda a necessidade de maior diálogo e interação entre a CNPdC e o MinC e desta forma gostaríamos de ter garantida uma agenda de encontros e reuniões que possam dar conta das amplas e diversas pautas. Desta forma, solicitamos informações sobre o planejamento da Secretaria para o ano, e nos colocar à disposição para esta construção. Desde já, indicamos três agendas que consideramos prioritárias: – A realização de uma reunião ampliada da CNPdC com o MinC/SCDC , sendo garantida e financiada a participação de pelo menos um representante de todos os GTs que compõe a comissão, sendo observadas e cuidadas suas especificidades em termos de acesso à comunicação, acessibilidade e diversidade regional. E sendo também convidados outros setores do Governo Federal, como a Educação, Saúde, Juventude, Ciência e Tecnologia, Comunicação, Direitos Humanos, Turismo, que tenham interface com o Cultura Viva. – A realização anual de uma Teia, o encontro nacional de Pontos de Cultura, sendo garantida e financiada a participação de pelo menos um representante de todos os Pontos de Cultura do Brasil, sendo observadas e cuidadas suas especificidades em termos de acesso à comunicação, acessibilidade e diversidade regional. E para que o encontro possa corresponder às bases conceituais do Programa Cultura Viva, é de extrema importância que os Pontos de Cultura estejam intriscicamente envolvidos em sua produção. Para isso, sugerimos que a verba para sua realização seja repassada através de aditivo de convênio para a gestão de um Ponto de Cultura, escolhido democraticamente pela rede, e não fique submetida a uma empresa licitada pelo governo e completamente desligada do cotidiano do Cultura Viva. – Neste debate entre a regulamentação do repasse de verba entre o governo e a sociedade civil, também identificamos a necessidade de aprofundar o conhecimento geral sobre o assunto e ampliar o controle social nas prestações de contas de projetos culturais. Desta forma, já tem sido discutido entre a Comissão Nacional dos Pontos de Cultura e a Secretaria a necessidade de realização de um seminário de esclarecimento e acúmulo entre os Pontos de Cultura, o Controladoria Geral da União, o Tribunal de Contas da União e o Ministério da Cultura a fim de esclarecer procedimentos, sanar dúvidas e propor soluções para os impasses encontrados hoje nesta relação. Reforçamos ainda as pautas da Comissão Nacional dos Pontos de Cultura: – Quais editais estão previstos para 2015, que ações temáticas e regionais estão sendo pensadas e quais instrumentos de repasse estão sendo buscados? – Quais as perspectivas de implementação da Política Nacional do Cultura Viva e quais os recursos previstos para o ano de 2015 ? – A respeito da meta 23 do Plano Nacional de Cultura, que prevê 15 mil Pontos de Cultura até 2020, gostaríamos de saber qual o cronograma previsto para atingí-la e qual o valor atualizado para os novos Pontos? – Há algum tipo de diagnóstico nacional dos Pontos de Cultura nos Tribunais de Contas nas três esferas de governo? – Como está a situação dos editais cancelados e qual o posicionamento do MinC/SCDC em relação ao atraso no repasse dos convênios nos estados e municípios? – Como o MinC/SCDC se posiciona em relação ao Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil dentro do governo? – Como o MinC/SCDC pensa realizar a descentralização da gestão através do Sistema Nacional de Cultura, cuidando da relação com estados e municípios? Por fim, damos boas vindas e nos colocamos à disposição ao diálogo e à construção coletiva, esperando encontrar nesta gestão o reconhecimento e continuidade das boas práticas realizadas nas gestões anteriores, assim como uma diversidade de forças políticas, saudável para uma relação transparente e colaborativa entre governo e sociedade civil. Um abraço afetuoso, Fórum dos Pontos de Cultura do Estado do Rio de Janeiro
Meditação Heart Chakra (Osho)
A Heart Chakra é uma meditação que faz conectar com o coração. Renova a energia através de movimentos em diração aos quatro pontos cardeais, te deixando mais sensível e amoroso. No momento em que tu te preenche com esta amorosidade, vai querer compartilhar com os outros, pois há um transbordamento desta energia.
Até o quarto estágio ela é feita de olhos abertos acompanhando o movimento de expansão das mãos. As mãos têm uma conexão direta com o coração.
Estágios da Meditação Heart Chakra
Primeiro Estágio: Horizonte
a) Comece em pé colocando ambas as mãos sobre o chakra cardíaco em posição de repouso;
b) Ao iniciar a música, mova a mão e o pé direito para a frente alternadamente, com a mão e o pé esquerdo até o final da música;
c) Volte à posição de repouso.
Segundo estágio: Paraíso na Terra
a) Ao iniciar a música, mova a mão e o pé direito para o lado direito alternadamente com mão e o pé esquerdo para o lado esquerdo;
b) Volte a posição de repouso.
Terceiro estágio: Expansão
a) Ao iniciar a música nova, a mão e o pé direito para trás, alternando com a mão e o pé esquerdo para trás;
b) Volte a posição de repouso.
Quarto estágio: Voltando para Casa
a) Execute seqüencialmente os movimentos dos estágios 1, 2 e 3;
b) Fique na posição de repouso até tocar o sino. Logo após, sentar.
Quinto estágio: Aqui e Agora
Mantenha-se sentado de olhos fechados até o final da música e dos sinos.
(Fonte: http://www.namaste.com.br/)
Ouça e baixe as faixas da meditação: http://www.iteia.org.br/audios/meditacao-heart-chakra-osho